terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Desde a Insignificância

"Acusações podem vir da ignorância mas elas servem aos interesses dos homens, não das mulheres" Mary Daly.

Como te atreves?
Insolente.

Pretendes qualificar-me
sem saber como se vive
desde o alto da escarpa.


Tu, ostentando propriedade

do mundo.


Com sua idéia moral
e de bem-proceder.


Te estorvo tanto,
que seria grande
tratar de enumerar,
em exato
aquilo que julgas.

Que neguei-me
a ser tua musa
ou a imagem étnica
que te justifica.

Que cansei-me
da servidão.
Que estou farta
da incondicionalidade absurda.

Provavelmente,
é porque tomei a opção
de abrir os horizontes
de escutar minha voz,
de nomear a minha irmã,
e que me fiz apropriar-me
de meu fazer-autonomia.

Então, me acusas:

Que sou vaidosa.

Que me falta sabedoria
- para entender suas regras -.

Que de minha boca saem mentiras
- porque não posso tragar suas verdades -.

Porque tomei a palavra.
Porque inventei meu caminho.
Me chamas infiel.
Outra vez sou a hereje.
Novamente, a pecadora.

Você, desde a altura iluminada,
sentencias, como se pudesses,
sobre a alma minha,
e me chamas mulher de obscuridade.

Desde teus altares,
ante suas tribunas,
empunhando teu cetro.
Ordenou desfigurar
a imagem de meu rosto.


Tentou esconder meu nome
dos testemunhos.

Porém,
não logras o esquecimento
da minha existência.

Deixa-me, deixa-me.
Elijo ser a pária.
A infecciosa.
A insuficiente.

Fico aqui,
vaidosa,
instintiva,
com minha inteligência pouca,
com minha verdade sombria.

Fico aqui,
sentada em minha soberbia.
Já que uma coisa eu entendo.
Uma só, é certa:

Se estou tão errada;
Se tenho o caminho tão perdido;
Por que insistir em negar
o que 'não conta'.

Por que você, desde o poder,
se ocupa de me conter
de me acossar, de me acurralar.

Por que, se sou apenas nada
Por que, então,
minhas perguntas abrem feridas?

Por que se questiono eu,
você e suas hierarquias encharcam cimentos.

Por que, se abro eu a boca,
tu tremes.



Patricia Karina Vergara Sánchez é uma feminista lésbica, poetisa e escritora mãe de uma filha que vive no México. e que, como ela mesma diz "Sou morena, gorda e peluda." e que "Constantemente está desempregada", por ter "escolhido inconformar-me quando há injustiças e por culpa desses olhos meus que se dão conta e desta boca nécia que não quer calar.". Mais em seu site cuentitospallevar.blogspot.com ou por e-mail: pakave@hotmail.com


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